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POESIA

| SOLARIUM

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      Solarium é o registro de dez anos de poesia de Rodrigo Garcia Lopes. Nele encontramos a emoção e o pensamento que unem três momentos de seu processo criativo: “Dioramas”, “Polaroides” e “Solarium”, que contém sutilezas peculiares, como se fossem três livros independentes. De fato, os títulos destes momentos indicam aquilo que iremos encontrar durante a leitura do livro.

      Em “Dioramas” vemos circular poemas dos mais variados estilos, com técnicas e texturas que seduzem e declaram a liberdade de evocar diferentes performances em seu discurso. Como um diorama, são quadros transparentes por onde a luminosidade irisa e provoca efeitos que nos hipnotizam, nos sedam, sinestesias.

      “Polaroides” são instantâneos que sensibilizam nossas retinas emotivas com o bom gosto da arte do trajeto. São paisagens vistas de trem, em jardins e estações, cenas e insights captados no instante irrepetível de sua ocorrência e desaparição. Os movimentos de dispersão do “eu” estão em questão nesta segunda parte. O viajante — aquele que nunca se despede — sabe, como diz R. H. Blyth, que “para se degustar a verdadeira felicidade é precisoviajar até um lugar muito distante”. Há a experiência direta e cinemática com clima e situações, sempre anotadas por sua escrita-fotográfica: escrita que se metamorfoseia em rastros, pistas, pegadas na areia.

      “Solarium”, a última parte, e que dá nome ao volume, traz a fulguração do pensamento, a ideia poética posta em ação definitivamente. Uma poesia em que o movimento espirala e deriva, deixando explícito o próprio ato de transformação da realidade em poesia. Vemos a articulação — a capacidade do poeta de coletar discursos ao seu redor — como principio de uma poesia que se preocupa em alimentar, dizer. Daí porque poemas de maior fôlego, com gradações e fusões de um estado a outro, captando o caráter descontínuo da experiência poética. Com versos longos e “livres”, de ritmo improvisacional, no qual as luminosidade da poesia permeiam as sombras da prosa, ratptando diversas vozes, enigmas, imagem-música. Uma certa alegorização, uma repercussão do choque de informações poéticas velozes e simultâneas é o que encontramos nestes poemas, destituídos do conceito tradicional de centro discursivo, possibilitando formações simbióticas entre o lírico e o épico, o sublime e o banal.

      Solarium é um livro orgânico, que afirma a ideia de uma poética solar, de charmes e climas, de virtú. A percepção é seu móvel principal. A memória, o Túnel do Tempo, repõe uma viagem sempre recomeçada pelo poeta. Como a espiral de uma concha do mar — o solarium perspectivum — o ato de fazer poesia para Rodrigo é um processo, imagem onírica, em transe, no qual os sentidos devem dar ação a uma escrita que registra os estados de alma.

Maurício Arruda Mendonça
(em Solarium, 1994)

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