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FORTUNA CRÍTICA

| SELEÇÃO

       Rodrigo Garcia Lopes, o Satori Uso, é um dos mais notáveis poetas paranaenses da safra novíssima. Me impressiona a falta de provincianismo, a abertura cosmopolita, a coragem da informação difícil, o extremo atrevimento desse londrinense, nada indigno do pioneirismo que levantou, naquela terra vermelha, a cidade mais rápida do Brasil.

Paulo Leminski
- Correio de Notícias, 16/11/1985

 

 

       Não é comum, livro de estréia de poeta tão moço - 22 anos -com esta qualidade. Há muito equilíbrio na fatura de todos os poemas, mas a audácia e o risco não foram esquecidos. Audácia e brilho que vamos encontrar, o que é ótimo sinal, nos significados, no modo variado e personalíssimo de ver as coisas.

 

Armando Freitas Filho
- em carta ao autor, 1988

 

 

 

       Depois de ler os poemas de Rodrigo Garcia Lopes, não tenho a menor hesitação em afirmar coisas grandiloqüentes como: ele é um dos melhores poetas surgidos ultimamente neste país.

 

Caio Fernando Abreu
- em Caderno 2, O Estado de S. Paulo, 14/3/1988

 

 

 

 

 

       Qualifica as traduções, além disso, o fato de os tradutores Maurício Mendonça e Rodrigo Garcia Lopes, paranaenses de origem, serem dois dos melhores poetas que estão surgindo no panorama. Tradução de poetas, tradução como diálogo criativo e não como ofício profissional.

 

Régis Bonvicino
- sobre Sylvia Plath: Poemas, Folha de São Paulo, 29/3/1992

 

 

 

       Uma poesia em que o movimento de significação espirala e deriva, deixando o próprio ato de transformação da realidade em poesia. Vemos a articulação - a capacidade do poeta de coletar discursos ao seu redor - como princípio de uma poesia que se preocupa em alimentar, dizer.

 

Maurício Arruda Mendonça
- na orelha de Solarium (Iluminuras, 1994)

       Entre o brilho frio de um alfinete e a tenra pele de um pêssego, é necessário admitir que a poesia de Rodrigo Garcia Lopes é, atualmente, uma das melhores produzidas no país. Não é uma questão de exagero, é uma questão de qualidade, de afinação do instrumento da estética poética.

 

Marcos Losnak
- Caderno 2, Folha de Londrina, 15/12/94

 

 

       Reunidos assim em partes-com 19 "dioramas", 27 "polaróides" e 18 "solariuns"- vejo-os como notações sobre o mesmo tema em que, viajante, o poeta parece dizer, já pela linguagem do percurso, que não há mais lugar para "poetas locais" e nem para influências muito bem situadas (e/ou sitiadas). Desterritorializado seja pela movimentação incessante que vai anulando espaços deixados para trás, arte e ofício de todo viajante, seja pela própria confluência geracional que o coloca num mundo onde não há mais lugar para o poeta "épico", de raízes bem definidas e influências idem [...] não é sem propósito que já no segundo poema com que nos introduz a seus preciosos Dioramas, Rodrigo nos informe: "Como uma paisagem: / uma imagem/ nunca se completa./ É preciso quase tê-la,/ captá-la/ num segundo./ Depois deixá-la/ quieta/ cuidando de si mesma".

Wilson Bueno
- sobre Solarium, Folha de Londrina, 10/11/1995

 

 

       Em seu livro anterior, Solarium, o trabalho de Rodrigo Garcia Lopes se marcava sobretudo pelo que se poderia considerar uma enorme e quase desconcertante diversidade. Isto resultava do fato de o poeta praticar uma experimentação possível de ser compreendida em dupla direção. Primeiramente, de modo mais amplo, a experimentação talvez fosse busca de possibilidades bastantes distintas de elaboração dos poemas, de modo a permitir uma exposição do conhecimento e domínio da atividade desenvolvida, fazendo-se então um percurso pelo espectro da linguagem poética à disposição do poeta. A experimentação ainda se dava, em outra direção, de modo mais interno à própria elaboração poética, da construção do artefato poético. O fato é que, entre maiores e menores acertos, fica de Solarium a imagem de um vigor muito especial entre as gerações mais novas, de uma capacidade inventiva não apenas peculiar, mas instigadora. [...] Em termos de gerações, entre salvados das fulgurações (muitas vezes rija) das vanguardas e desordenações (por vezes flácidas) que correram pelas margens, o trabalho de Rodrigo Garcia Lopes propõe-foco efetivamente poético-rearticulações por meio de uma produção que sabe desencadear ânimos e cálculos, com belíssimos resultados.

 

Julio Castañon Guimarães
- em orelha de Visibilia (Setteletras, 1997)

 

 

 

       Obrigado pelas suas visibilias, cujo conteúdo faz jus ao título na medida em que torna o invisível visível através deste. Seus poemas são bem amarrados pela rima necessária ou, esta ausente, pela lógica analógica do sentido. Poemas como eu gosto - com começo, meio e fim.

 

José Paulo Paes
- em carta ao autor, 1997

 

 

 

       Visibilia - como o nome denuncia - nasceu com a despretensão de registrar aqueles momentos em que os olhos regem o pensamento; em que a imagem pede a palavra. Sensação no governo da razão. Paisagens e banalidades cotidianas escondem a estranheza, o surpreendente, o apaixonante. E a poesia é quem pode desvelar milagrosamente o extraordinário oculto no ordinário, pervertendo o senso comum, alterando os padrões da sensibilidade. Para enxergar além da conta e sem amarras, Lopes em boa hora soube de novo se fazer forasteiro.

 

José Carlos Fernandes
- Caderno G, Gazeta do Povo, 29/11/1997

 

 

 

 

 

       A maior parte dos quarenta títulos que compõem visibilia tenta, seguindo à risca a bela epígrafe de Klee, não apenas (re)inventar a natureza, mas também (e sobretudo) tornar visível o seu sentido -ou melhor, reconstruí-lo tão-somente a partir de resíduos de visibilidade ou daquilo que, se mostrando puramente ao olho, melhor se presta (e sem sustos) a despertar o surto da linguagem. Na maioria das vezes em que Rodrigo captura o que o mundo oferece como "coisas vistas uma só vez/nítidas (...) possibilidades de luz", o ato de ver - tão ingrato de ser recuperado pelo ato de escrever - serve como alavanca para uma empresa de resplandecimento das nuances "naturais" das coisas. À guisa de René Char e Francis Jammes, sua varredura visual privilegia o "amor à terra" com imagens recorrentes de paisagens compostas por ondas, chuvas, brisas, montanhas, dunas e faróis (cf. "Oração à Brisa", "Pedra, Labor de Espumas", "O Que Passou" e "MU"-quatro ótimos momentos do livro). Ao fim, visibilia apenas constata que todo poema "é uma ilha ainda por ser escrita" e que toda tentativa do poeta é "como um minuto de silêncio" que o poema reverbera na "pura distância" que o separa do que o atiça.

 

Jorge Lúcio de Campos
- Folha de São Paulo, Caderno Mais!, 16/11/1997

       Nota-se no estilo de Rodrigo certa influência da Language poetry norte-americana: este apego obsessivo à imagem, mas com uso da metáfora de forma substantiva, quase intransitiva; a utilização de recursos sonoros na decupagem dos versos.

 

Reynaldo Damazio
- Sobre Visibilia, Revista CULT, 6, 1998

       Para quem esperava do polêmico poeta londrinense os vôos da "vanguarda" mais desabrida [...] Rodrigo Garcia Lopes impõe-se, desde a mirada/miragem de um estranhamento quase desgarrado, um rol de recusas: ao pós-moderno quase sempre mais pós-modernoso do que "pós" [...]. Para além da superfície chapada das coisas, receito-vos visibilia; para além da retângulo-quadradice da linguagem acadêmico-monográfica que mediocriza qualquer literatura, receito-vos visibilia; para além do crochê miúdo com que o sanatório das letras tupiniquins se cospe e se agulha, receito-vos visibilia. É uma ilha de delicadeza no tédio infinito e na violência explícita com que a "violência" cultural do país de Fernando Henrique Cardoso "hormogeiniza" e anestesia. Época nem um pouco apropriada para audácias de fundo.

Wilson Bueno
- Folha de Londrina, 25/10/1998

 

 

       Chama a atenção ainda outra tendência, a preocupação com um redimensionamento temporal do poema, que se têm definido na poesia brasileira sobretudo a partir de meados dos anos 80. [...] Lembrem-se, nessa linha, tematizações explícitas recentes dessa preocupação mais acentuada com o tempo lírico. Como a reflexão sobre o caráter de "still moment" da imagem poética, empreendida por Rodrigo Garcia Lopes em "Como Uma Paisagem".

Flora Sussekind
- em "A Série", A Voz e a Série (SetteLetras, 1998)

       Ele faz uma poesia desabrida, de visões amplas e com uma linguagem solta e que tem relação com a geração beat e com a cultura norte-americana. Há eloqüência sem exageros.

 

Italo Moriconi
- Caderno G, Gazeta do Povo, 16/5/2001

       Rodrigo Garcia Lopes incorporou num repertório de afinidades eletivas a dicção beat, explorando a coloquialidade, a narração e os versos longos, vestígios da poesia oriental, como Bashô e Li T´ai Po, e certas linhas poéticas contemporâneas, do rap das ruas de Nova York à lírica séria de Laura Riding e John Ashbery. Esse diálogo aberto e crítico com outras culturas e a apropriação transformada (miscigenada) de formas nada tem de epigonal ou ingênuo. Trata-se aqui de compartilhar (ou intercambiar) o imaginário, a vivência, as cores e os sons de outras latitudes geográficas ou temporais, numa era onde já não há mais fronteiras. Para uma maior compreensão desse processo, seria preciso uma análise em profundidade, muito além de certas teses redutoras do multiculturalismo e da teoria dos gêneros, tão em voga hoje em dia, em alguns círculos.

 

Claudio Daniel
- em Na Virada do Século: Poesia de Invenção no Brasil, 2002

 

       If invoking European intellectual tradition in current contexts of Brazilian lyric is as honest and necessary as ever, the relative interest in American referents and pertinent functions in discourse, as argued throughout here, more often appear more natural. The lead piece of the intention-laden Polivox (2001) by Rodrigo Garcia Lopes is an extended (116 lines) and multivalent composition. There are epigraphs from German, French, and USAmerican authors about linguistic dispersions and disruption of systemic continuity. The poem itself "c:/polivox.doc" (10-15) draws on a surfeit of registers, IT- information technology, including products and Internet, the first word is "On-line." - arts, advertising, news, and proverbial wisdom, paraphrasing or actually quoting from a variety of sources, from mythology and philosophy (e.g. Wittgenstein) to literature and underground film. Multiplicity is affirmed in a self-defining phrase: A dança do duende entre a floresta dos signos. This is symptomatic of turn-of-the-millennium lyric attuned to transtemporal, planetary planes of discourse of lyric or subject to absorption by lyric. It can be seen as a literary version of the socioanthropological variety of expressive Latin American popular culture posited as "multitemporal heterogeneity" (García Canclini 3). Visual culture (film and beyond) directs a commodified, mystified society, and, in conclusion: "Não há como escapar." How not to admit the implications of massive media presence and the imbrication of languages and nations? There is no suggestion of celebration here, nor of confrontation; but rather questioning, pondering. The international frame of reference, finally, is structured by a certain USAmerican prominence- especially mediated culture: Pound, "Sonho Americano," Madame Yahoo, Dell, matinês americanas- that means, in the long run, transamerican awareness.

 

Charles Perrone
- em Revista Chasqui (EUA), 2004

 

 

       Polivox é um experimento investigativo da linguagem, assumindo a vida como a mais agressiva das artes. Ocorre a freqüente mudança de tom, desenvolvendo códigos, estilos e escolas - dos haicais, passando pela poesia medieval e desaguando no barroco. O poema se assemelha a um bazar de idéias, um objeto inconcluso, instável. A página tem as oscilações de um gráfico cardíaco. Os hipertextos captam os ruídos em tempo real. A linguagem é sempre interrompida, cindida por demandas externas e distrações. Qualquer tema pode ser aproveitado pela poesia - essa é a tese, o desafio proposto. "Cada memória esgota-se ao mesmo tempo em que ocorre." Lopes se enraíza na percepção, instaurando um épico da fala contemporânea.

 

Fabrício Carpinejar
- Jornal Rascunho, junho de 2003

       Nômada traz versos de forte plasticidade que discutem temas da época contemporânea, marcada pela incerteza, transitoriedade e turbulência. Figura presente em antologias como "Esses Poetas", "Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século" e "Na Virada do Século", Rodrigo Garcia Lopes explora o poema como improvisos de jazz, formando textos espontâneos que misturam os sentidos e procuram reproduzir a autenticidade da vivência. Acredita viver "em estado permanente de linguagem". É um escritor das viagens, do deserto, das estradas baldias e das incertezas. Disposto em cinco seções, o livro realiza um diálogo com os principais movimentos literários e vanguardas como a poesia beat e a language poetry.

 

Fabrício Carpinejar
- Jornal Rascunho, 2004

 

 

       Polivox, degusto aos poucos. Perturbador. Tenho entrado principalmente nos tijolos de textos, as prosas de narrativas supuradas. Artista culto, sem exibicionismo. João Gilberto Noll, em carta ao autor, 2001: Talvez o que esteja em crise seja a própria busca do lirismo. Rodrigo enfrenta essa crise com determinação e talento. Se há tropeços, isso se deve à persistência do poeta, que não fugiu do terreno minado. Não é fácil dominar várias vozes, afiná-las todas. Mas esquivar-se da empreitada é permitir que a poesia seja apenas - citando um dos bons poemas de Polivox - sexo, mentiras e, o que é pior, videoteipe.

 

Nelson de Oliveira
- em "O Novo Lirismo Contemporâneo", O Globo ( 19/08/ 2002)

       Rodrigo Garcia Lopes sugere a possibilidade do impulso que presidiu ao nascimento da lírica moderna. Resgate de uma poética das sensações não somente hedonistas, em que se constitui a subjetividade como percurso ao longo do qual se esboçam também um lugar e um tempo coletivos. Resgate do sentido utópico de percorrer os caminhos da natureza e re-encontrar a liberdade para além dos clichês eufóricos da linguagem midiática, mas também dos clichês niilistas da literatura pós-moderna. Resgate do valor político e estético da beleza, pois "ela é tudo que nos resta", serve de rastro a seguir "para saber o que ainda presta", pois "o agora agoniza", mas "o futuro nos completa".

 

Célia Pedrosa
- em Poesia e Contemporaneidade, 2001


       Parabéns por sua poesia, que li com grande interesse. "Jogos Patrióticos" é irresistível e a tradução de Chris Daniels parece especialmente boa, mas o poema "c:polivox.doc" também é belo. Eu estou feliz de verdade por ver que você está se dando tão bem.

 

Marjorie Perloff
- crítica literária norte-americana, em carta ao autor, 2001

 

       Deu no jornal: "Um suicida detonou nesta segunda-feira um veículo cheio de explosivos, morteiros e mísseis perto da entrada de uma base americana na cidade de Mossul, ao norte do Iraque. O ataque matou três pessoas e deixou outras cinco feridas, informou a militar americana Ângela M. Bowman". Como superar a indignação com essas notícias que chegam do Oriente Médio. Respondo: com a poesia. Com a poesia de Rodrigo Garcia Lopes, o poeta paranaense que chega agora às livrarias com um novo livro - Nômada (Editora Lamparina, 2004) - onde a temática da guerra, mais especificamente da Guerra do Iraque, é uma constante. Sem panfletarismos datados, a obra é um petardo na poesia de quem aceita passivamente a despreocupação com a linguagem. De quem se conforma com velhas formas e rimas cansadas.

 

Linaldo Guedes
- em Correio das Artes, 30/7/2004

       Linguagem, espaço, movimento: um fio de luz que se desloca e filtra, na poeira dos dias, fagulhas de cidades, centelhas de deserto, dores alcalinas, na amplitude de um mosaico em que nada parece faltar ou sobrar. Justo, límpido, depurado, o texto de Nômada é indício claro da maturidade poética de seu autor, Rodrigo Garcia Lopes, um dos mais criativos, sensíveis e expressivos nomes do atual panorama literário brasileiro, que já há dez anos (desde a estréia, com Solarium), vem construindo uma obra marcada pelo trinômio inventividade / rigor / leveza, merecendo especial leitura e atenção. Deslocamento de vozes, trânsito de sentidos: eis a chave para a melhor compreensão deste novo livro de Garcia Lopes. Em constante transmigração, a palavra poética de Nômada move-se em uma "galeria de enigmas" e penetra na "história simultânea das coisas" (...).

 

Beatriz Amaral
- em Revista Zunái, número 15, maio de 2008

 

 

       Polivox reinventa o mundo, o seu mundo, pelas linguagens. Esteta de instrumentos afiados, Rodrigo Garcia Lopes, distende o tecido-vida, na transitoriedade imposta pelos signos/símbolos da época em que vivemos. Uma premissa, a maior: ser acima de tudo contemporâneo. O poeta não abre mão do seu tempo e a realidade que vive e conhece.

Jairo Batista Pereira
- em Revista Zunái, 2003

 

 

       Empreendida com talento, sensibilidade e rigor pelo poeta Rodrigo Garcia Lopes, a tradução mantém o ritmo original do autor, utiliza com precisão os recursos poéticos de sua oficina literária e, graças à escolha das palavras mais certeiras, adota a linguagem direta e vernacular - que foi a busca do poeta norte-americano, ao longo de sua vida. Oscilando, no ofício da tradução, entre aproximar o leitor do autor (buscando manter-se fiel ao propósito e ao plano do poeta), ou trazer o autor para próximo do leitor (na busca de tornar sua temática e dicção mais contemporâneas, por assim dizer), ainda assim o resultado obtido por Garcia Lopes é de qualidade bastante superior. Por fim destaque-se o ensaio (em mais de um sentido heurístico) sobre a vida, a arte e o ofício de Walt Whitman, assinado por Garcia Lopes, para que a recém-lançada edição de Folhas de Relva já seja considerada um clássico.

 

Rodolfo Witzig Guttilla
- sobre a tradução de Folhas de Relva, em O Estado de São Paulo, 5/2/2006

 

 

       A presente edição brasileira encara com seriedade os problemas de tradução que sua poesia oferece e a refaz num português tão atraente quanto é a apresentação gráfica deste volume, que - reordenando os poemas como a poeta desejara que os publicassem - inclui também seus manuscritos com as respectivas notas e correções. Num país como o nosso, no qual a poesia estrangeira é traduzida aos tapas ou aos trancos e barrancos, isso, sem dúvida, não é pouco.

 

Nelson Ascher
- sobre a tradução de Ariel, de Sylvia Plath, em Bravo!, novembro de 2007

 

 

 

       Nômada, de Rodrigo Garcia Lopes, é um livro que procura a unidade através da heterogeneidade, um livro em que (como o título indica) os poemas devem ser visto como "mônadas", como células encerradas em si mesmas, mas que se comunicam entre si, provocando um nomadismo de formas e sentidos. A diversidade de vozes é uma das características marcantes desse poeta que, não por acaso, havia lançado anteriormente dois trabalhos intitulados "Polivox" (um livro de poemas, publicado pela editora Azougue, e um CD em que Garcia Lopes mostra sua faceta de compositor e intérprete). No caso de Nômada, encontramos novamente essa pluralidade: poemas de um lirismo visionário, de inspiração ora surrealista, ora "beatnik"; poemas lineares em que as súbitas torções e as imagens urbanas lembram modulações jazzísticas; poemas em prosa de feição orientalista; palavras em suspensão, em montagens claramente influenciadas pela visualidade concretista.

 

Manuel da Costa Pinto
- sobre Nômada, Folha de São Paulo, 31/7/2004

 

 

       Rodrigo conserva em sua poesia um ritmo habitado pelos beats dos anos 60 e pela Language poetry norte-americana, sem abdicar de seu próprio estilo - sendo um dos primeiros poetas brasileiros a estabelecer um contato mais evidente com a cultura norte-americana, o que trouxe um acréscimo à tradição. Solarium, por exemplo, reúne poemas curtos, incisivos, ao estilo de Leminski - entre os quais "Peônias negras" (com sua coleção de haicais) - e outros mais longos, na linha de John Ashbery e de beats como Lawrence Ferlinghetti e Allen Ginsberg. Há, ao mesmo tempo, uma espécie de equilíbrio entre cummings e Bashô, num poema como "Outro outono", com os versos "céu de nuvem nenhuma / lambe a manhã / derruba folhas / uma por uma".

 

André Dick
- Revista IHU-On Line, Universidade Unisinos, 2009

 

 

       É pelo menos raro encontrar na poesia brasileira atual una exploração da relação homem-mundo-linguagem como a praticada por Rodrigo Garcia Lopes (1965). Sua linguagem se estabelece no mundo como matéria autoconsciente que não se limita a dizer-se: se dá chance de ir mais além desse saber de si mesmo. Pendular, oscilante entre a notação rápida que capta o instante - o tempo: una obsessão em Garcia Lopes - e o desdobramento reflexivo que alonga a duração e a faz transbordar, sua linguagem parte de um núcleo de irradiação geralmente dado na fala e conquista márgen que situam o poema em um espaço inédito, imprevisível.

 

Eduardo Milán
- em orelha de Visibilia, 2005

       Outro traço dessa escrita são seus desvios do verso para a prosa. Por conceber a poesia como um exercício de liberdade no plano da linguagem, o poeta explora os deslocamentos, contrações e expansões dos poemas na página, chegando mesmo a tangenciar, em certos momentos, uma espécie de "grau zero do gênero", através do qual o texto, recusando os limites de um formato textual, faz-se precisamente da ausência deles. Tudo isso, sem prescindir do rigor e tampouco se furtar ao improviso (no sentido jazzístico) no manejo das palavras. Por essas e outras potencialidades é que Nômada consegue eternizar "o fugaz no grão da linguagem", confirmando seu autor como um dos poetas mais instigantes/intrigantes do presente.

 

Maria Esther Maciel
- em orelha de Nômada, 2004

       O leitor que gosta de aprisionar em uma rotulagem a poética de um autor encontrará uma tarefa difícil ao ler Nômada (Editora Lamparina/2004) de Rodrigo Garcia Lopes. Diria que impossível. É que a poesia dele é multifacetada e de uma versatilidade inaudita. Será uma missão impossível colocar o autor nesta ou noutra escola literária. Talvez o melhor a dizer é que o poeta em questão é pós-moderno: no sentido que sua escrita se apropria de diversas máscaras para vestir o poema com a melhor roupagem poética possível. Para cada peça que forma um conjunto harmonioso há um pouco de cada estilo literário. Tudo dentro da modernidade e do verso livre. Do pós-concretismo ao surrealismo.

 

Rodrigo de Souza Leão
- em "Delirismo e Outros Ismos", Revista Zunái, 2004

       Garcia Lopes soube mostrar na quase totalidade dos versos sua tarimba de tradutor, saindo-se bem das armadilhas e tonalidades que Câmara Cascudo dizia intraduzíveis. Sirva a edição comemorativa como incentivo aos nossos editores e tradutores para nos trazerem finalmente um Whitman "complete and unabridged" [completo e sem cortes].

 

Ivo Barroso
-sobre a tradução de Folhas de Relva, de Walt Whitman, em Folha de S.Paulo, 4/12/2005

       A qualidade do trabalho de transposição (no livro mencionada como "transcriação") merece ser destacada, tendo em vista a riqueza vocabular, os efeitos guturais, sonoros, dessa poesia que, segundo a própria autora, ganhava intensidade ao ser lida em voz alta.

 

Ivo Barroso
- sobre a tradução de Ariel, de Sylvia Plath, Folha de São Paulo, 20/10/2007

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